sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Resenha: A Cultura Condiciona a Visão de Mundo do Homem

Em “A Cultura Condiciona a Visão de Mundo do Homem”, Ruth Benedict aborda como a herança cultural interfere diretamente na forma como as pessoas interpretam tudo aquilo que está presente em seu cotidiano e muda o comportamento dos indivíduos.

A autora descreve sobre como uma mesma atitude pode ter diversas visões a partir de onde ela acontece, como é o caso da prostituição. No segundo parágrafo, Ruth exemplifica como a prostituição tem valores diferentes segundo a tradição de cada lugar. Na Lícia, jovens fazem sexo por ouro para conseguir pagar o dote de seus casamentos. Essa prática é ilegal em diversos países ou muito mal vistas.

A antropóloga aborda também como posturas corporais e fisiologias humanas podem ser diferentes dependendo da cultura da sociedade. Segundo ela, é fácil identificar a origem de muitos indivíduos apenas pelo seu modo de agir. No oitavo parágrafo ela exemplifica sua tese citando Marcel Mauss (1872-1950), que defende que se “uma criança senta-se à mesa com os cotovelos junto ao corpo e permanece com as mãos nos joelhos, quando não está comendo, ela é inglesa. Um jovem francês não sabe mais se dominar: ele abre os cotovelos em leque e apoia-os sobre a mesa.” Para defender seu ponto de vista, Benedict descreve no décimo primeiro parágrafo “todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo [...] depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo”.

Outro assunto presente no texto é o etnocentrismo, para a autora ele é responsável por diversos conflitos sociais existente na sociedade. Descreve também como muitas crenças são utilizadas como forma de justificativa a violência e como o nacionalismo em excesso pode gerar xenofobia. Ela descreve de forma mais aprofundada entre o décimo sexto e o vigésimo parágrafo do texto.
Ruth Benedict conclui seu trabalho comentando o costume de discriminar e a dificuldade de aceitação do que é diferente, as vezes até mesmo dentro do mesmo grupo, e como isso pode ser um problema para a sociedade.

A autora aborda de forma sucinta e de fácil compreensão sua tese. O texto serve como uma reflexão aceitável sobre as diferenças culturais, mesmo que não seja tão aprofundado. Devido a falta de palavras técnicas, o texto pode ser interessante para pessoas de quaisquer área. É um texto bom, porém simplista. 

Terra Vermelha: Uma realidade esquecida pela mídia brasileira

“Terra Vermelha” é um filme de ficção baseado na realidade vivida pelos índios Guaraní-Kaiowá. Lançado em 2008 e dirigido por Marco Bechis. Boa parte dos atores que compõem o elenco são membros reais da tribo.

O filme se inicia com o suicídio de duas jovens garotas pertencente ao grupo, atitude frequente ao longo da trama. Os Guarani-Kaiowá possui as taxas mais altas de suicídio do mundo. Encontrados em uma situação em que sua cultura foi alterada pelo mundo moderno, mas não se veem pertencentes do estilo de vida dos homens brancos; jovens índios vivem um forte conflito de identidade e optam pela morte como forma de libertação. 

A trama gira em torno de uma tribo que passa a morar na beira da estrada próxima a sua antiga tekoha, que ao presente momento era pertencente a um latifundiário que destruíra boa parte de sua mata para o cultivo. Eles buscam o retorno as suas terras ancestrais para que possam voltar a seus ideais de origem e veem isso como uma solução para o suicídio. Na cena em que Nádio (Ambrósio Vilhalva) come a terra, ele mostra que a relação dos índios com ela não é de posse, como é o caso do fazendeiro, mas que ela é parte deles. 

Ao perder suas terras para o Estado em 1940 e ficar longe de seus tehoka, os índios passam a depender do sistema capitalista para sobreviver e são explorados por grandes fazendeiros que pagam pouco pelo seu trabalho. Em diversos momentos no decorrer do filme, Dimas (Matheus Nachtergaele) busca mão-de-obra indígena a pedido de donos de terras.
Na busca pelo retorno de seus costumes, um xamã passa a ensinar um jovem do grupo seus conhecimentos. Sua fé é posta a prova em diversos momentos, como quando Maria (Fabiane Pereira da Silva) tenta seduzi-lo com seu corpo e com seus bens. No final do filme, ao fingir um suicídio, o jovem xamã mostra que não fora vencido pelas luxúrias do capitalismo.
Uma triste consequência da resistência dos índios, foi o assassinato do chefe da tribo. A luta pelas terras indígenas são uma realidade até os dias de hoje, onde homens brancos se veem donos dela por direito econômico e os índios por direito cultural. Segundo a lei CF 1988, os indígenas tem o direito a suas terras tradicionais-originarias, mas muitos ainda vivem na beira do asfalto esperando que tal lei “saia do papel”. 

O filme consegue mostrar o drama tão triste vivido pelos índios brasileiro com humor em algumas cenas, o que o torna envolvente sem deixá-lo cansativo. A mídia jornalística brasileira pouco aborda as questões dos indígenas, o que cria uma carência intelectual na população sobre tais problemas. A abordagem inteligente sobre o assunto na trama ajuda a fazer com que os telespectadores conheçam e compreendam essa realidade.

Resenha: O Ritual do Corpo entre os Sonaciremas

Horace Minner (1912 – 1993) foi um respeitado antropólogo estadunidense doutorado pela University of Chicago. Autor de livros como “Cultura e Agricultura”, “Cidade na África Moderna”, entre outros. Porém, ele é igualmente famoso pelo ensaio satírico discutido nessa resenha.

“O Ritual do Corpo entre os Sonacirema” aborda de forma filosófica o estilo de vida desse grupo norte-americano obcecado pela magia e com crenças pouco usuais. Segundo ele, o cuidado com a saúde e a aparência é uma característica marcante da cultura desse povo, para cuidar de seus corpos os Sociaremas fazem rituais e cerimônias com tendências masoquistas.
 
Horace descreve os aspectos cerimoniais dessa tribo, segundo ele boa parte do dia dessas pessoas é ocupada por rituais mágicos. Em todas as casas há um santuário, nele há um grande número de poções mágicas e feitiços, que são obtidos por profissionais da área. Neste espaço são praticados rituais secretos e privados. Diariamente os membros da família fazem um breve rito de ablução nas águas sagradas encontradas em tal espaço. No ritual cotidiano do corpo, homens arranham e laceram seus próprios rostos. Mulheres assam suas cabeças em fornos por, em média, trinta minutos. 

O antropólogo descreve também sobre o cuidado com a boca, que é uma preocupação constante para essa sociedade. Para evitar o apodrecimento dos dentes e atrair amigos, os membros são sujeitos a rituais de tortura anualmente. Os “homens-da-boca-sagrada” - especialistas da área - utilizam ferramentas como furadores, sondas e agulhas. Com elas alargam quaisquer buracos que tenha nos dentes e depositam materiais mágicos nos mesmos. 

É importante destacar também que o autor cita o latipsoh. Quando ficam doentes, os nativos procuram este local em que são realizadas cerimônias extremamente violentas em troca de ricos presentes ao zelador. Mas por estranho que pareça, adultos esperam ansiosos para recebem tal purificação ritual; o que deixa ainda mais visível à tendência masoquista do grupo. 

Ao ler o texto, um homem moderno pode achar a cultura dos Sonaciremas repugnante ou coisa de louco. Mas o Minner está descrevendo os costumes americanos, com outras palavras. Os santuários são os banheiros, os “homens-da-boca-sagrada” são dentistas e o latipsoh o hospital. Quando vista pelo olhar de um desconhecido, ela pode parecer tão diferente quanto a de qualquer outro povo que às vezes são vistos como irracionais. Por isso, é importante aprender e entender a cultura de outros povos antes de julgá-los. O texto consegue tirar o leitor da zona de conforto de aceitar tudo o que vive sem questionamentos.

Publicado por Dayane Néri